sexta-feira, 9 de março de 2012

O triste fim do Minas Gerais

Em 9 de outubro de 2001, em cerimônia realizada no período da manhã no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro - AMRJ, o Navio Aeródromo Ligeiro Minas Gerais - A 11, foi submetido a Mostra de Desarmamento, deixando assim serviço ativo na Marinha do Brasil. O Minas atingiu as marcas de 1.975,5 dias de mar, 487.503,7 milhas navegadas, 17.022 pousos enganchados e 3.115 catapultagens.


Depois de muitas idas e vindas, o ex-Navio Aeródromo Ligeiro Minas Gerais - A11 foi vendido, como sucata, para um armador Chinês pelo valor de 4 US$ milhões. Depois de breves reparos no dique-seco, o Navio deixou sua base pela última vez em 09 de fevereiro de 2004, rebocado pelo navio russo "Kapitan Martyshkin", da firma Regulus Ship Services LLC, com destino a um desmanche em Alang, na Índia.



Conheça toda a história do Minas Gerais, suas missões, seus comandantes e seu destino aqui

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Show dos Fuzileiros

Aos amigos Fuzileiros, vocês deram um show na apresentação no maior festival de bandas militares do mundo, "Edinburgh Military Tattoo 2011", realizado na Escócia no período de 05 a 27 de agosto último.

Um abraço do pessoal da Armada (morrendo de inveja), parabens!!





O Almirante Alan Arthur conta que Quando Cole Porter veio ao Rio, assistiu do palanque o desfile de 7 de Setembro. Quando viu passar a Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais, ele puxou o Ary Barroso pela manga do paletó e perguntou sério:

- O que é isso? Eles não seguem a cadência do bumbo como todos os militares do mundo? Eles pisam num ponto surdo entre as batidas! E eles balançam para os lados como se estivessem dançando!!!

O Ary respondeu: É porque é uma banda de mulatos que tocam de ouvido e não marcham. Eles desfilam, o que é diferente. Esse balanço se chama "ginga", mas eu não vou tentar te explicar porque você não entenderia nunca...

A banda marcial não tem instrumentos musicais convencionais, mas apenas clarins, cornetas, pífaros e gaitas de foles, além da ala chamada "pancadaria".

Veja o filme do You Tube. E que inveja desses cadetes! Desfilar em Paris, no 14 de julho, puxados por essa banda, erguer para o céu os estandartes verde-amarelos, arrebentar o asfalto da Champs Elisées, não tem preço... Difícil deve ser berrar "Brasil" em terra estrangeira ouvindo a Canção do Expedicionário, porque o choro deve atrapalhar um bocado...


Créditos para o blog do Luis Nassif - tem mais vídeos lá, nos comentários da postagem.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

DILEMAS A MEIA-NAU

Quando Você punha os pés num navio de guerra pela primeira vez, só então percebia como estáva despreparado para a vida a bordo. Muita coisa a gente até sabia o nome. Ou tinha uma noção do que se tratava. Em parte por causa das aulas de Marinharia e, também em partee, de tanto ouvir falar a marujada e os veteranos que já tivessem embarcado no anto anterior.
Não me refiro a se equilibrar no convés em alto mar, resistir ao enjoo, essas coisas: não tínhamos uma idéia sequer da rotina que nos esperava, nem do tipo de atividade ou inatividade a que seríamos submetidos. É fácil entender por que, pelo menos em alguns aspectos.
A verdade é que éramos rigorosamente inúteis para o andamento das coisas - digo todas as coisas, da navegação à segurança, passando pela administração do tempo e das atividades de todos os embarcados. Evidentemente, não éramos capazes de desempenhar a imensa maioria das funções a bordo, uma vez que tudo o que aprendíamos era estritamente teórico - embora eu prefira dizer, com mais rigor, que era estritamente abstrato. Seria insano atribuir a um de nós a navegação do navio ou o monitoramento das máquinas.
Assim sendo, para cada função real a ser executada a bordo, das fainas mais rotineiras às mais delicadas, havia um tripulante encarregado, e isso a cada uma das 24 horas do dia. Seja no mar ou no porto. Assim sendo, a possibilidade de termos alguma coisa de realmente útil para fazer seria devido a algum erro ou, o que é pior, a uma catástrofe. Nas duas viagens que a nossa turma fez, ninguém esperava mais do que um passeio.
Bom, nada é de graça na Marinha. Como aliás na vida: Você pode até achar que não está pagando, mas alguém está, nada é de graça.
Creio que na cabeça de algum homem do mar que bolou, pela primeira vez, a tarefa adestrar coletiva e sistematicamente marujos de primeira viagem, passou a idéia de fazer do "serviço", também conhecido como o "pau", e que nós paisanos chamamos em outras profissões de "plantão", um elemento dessa aprendizagem. Refiro-me a aprender coisas como "nada é de graça na Marinha", "a bordo é melhor sempre ter alguma coisa para fazer", "a razão de ser de uma tarefa não está no seu desempenho, mas na sua função didática", enfim, coisas desse teor.
Dos meus primeiros anos de faculdade, guardei a lição de que a filosofia é inútil porque tem finalidade nela mesma, enquanto as coisas úteis têm sua finalidade em outra, são úteis para alguma coisa. Devo dizer que esse conceito, que tanto deixa os filósofos cheios de si, ajudou-me a compreender - ah, muitos anos depois - que diabos eu estava fazendo depois que me puseram "de serviço a meia-nau".
Dependendo do ponto de vista adotado para conceituar o que é "fazer alguma coisa", a resposta pode ser simples e enganadora ou surpreendente e complexa. A rigor, não tinha nada a fazer, não recebi nenhuma instrução, não havia uma rotina escrita nem, nas primeira horas, fui solicitado a fazer o que quer que fosse. Mas me deram uma boa dica: qualquer dúvida, pergunta para o sargento. E esta é uma regra de ouro do adestramento de jovens paisanos a fim de se tornarem oficiais da reserva. Na dúvida, pergunta ao sargento.
Brevemente aqui: lições aprendidas a meia-nau.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

ENCRENCA NO ALOJAMENTO

Na hora de escolher o beliche fui um dos últimos, sabe-se lá por quê. Fiquei no canto mais à esquerda, na parte de baixo, porque um veterano reivindicou a parte de cima. Pois era o L., a quem, depois do incidente da tentativa frustrada de trote, eu simplesmente ignorei. Ele não foi muito educado ao expressar sua preferência, mas também seria pedir demais.
Só na hora de ir para a cama percebi que o rei dos chatos não tinha aparecido, apesar do toque de silêncio, e alguém comentou que ele tinha baixado à terra e voltaria de yole em algum momento da madrugada. Minha chance de acordar nomeio da noite por um criador de caso era alta.
Aí, tive uma brilhante idéia - mesmo porque não sou como o Einstein, que teve uma única boa idéia.
Eu iria dar uma lição no L., para deixar de ser prepotente - hoje seria um bully. Como ele não estava dormindo, eu não poderia escorbutá-lo pessoalmente. Resolvi espalhar pasta de dente na fronha e em boa parte do lençol. Quando ele se deitasse iria ficar empastelado - ou seria pastificado - na cabeça e pelo corpo.
Claro que fiz isso reservadamente, assim não daria chance a ninguém para corrigir essa imensa bobagem. Mas contei só para um colega mais chegado. Este meu segundo erro, logo se verá por quê. E fui dormir o sono dos inocentes. Dormi sem maiores dificuldades. E acordei com um escarcéu.
Alguém acendeu as luzes do alojamento aos berros de "Quem foi o @#%!! que escorbutou minha cama?" Tinha sido eu o @#%!! que escorbutou a cama do veterano de serviço de polícia. No início ninguém se acusou, também ninguém me acusou, sinal de que eu tinha sido mesmo cauteloso. Meu amigo também ficou quieto. Mas ele sabia que o @#%!! era eu. E eu não estava gostando nem um pouco de ser chamado publicamente de @#%!!, sem reagir. Continuei deitado, mas fui ficando vermelho, não sei se só de raiva, mas também de vergonha, embora só eu notasse e, afora meu amigo, só eu soubesse por quê.
L. alternava prepotência e resmungos do tipo: "É um absurdo, isso é coisa de moleque, não pode escorbutar material, material é sagrado". Para se ver que mesmo o indisciplinado mor, quando precisa se refugia em regras que o protegem. Depois de resmungar muito ele embrabeceu de novo: "Quero ver se esse covarde @#%!! é homen para se acusar, que vou dar uma porrada na cara para deixar de ser @#%!!.
O que diz o abc da sobrevivência em condições desfavoráveis? Relaxa e te faz de surdo. Mas eu não podia fazer a única testemunha de surda, nem de muda. Meu amigo não me dedaria, mas a essa altura já devia ter comentado com um ou outro, para todos se divertirem com os dissabores do rei dos chatos. Mas cedo ou mais tarde todos saberiam que eu ficara quieto. Estava quieto por ser malandro, não por ser corajoso. Se eu fosse malandro, para começar, não teria escorbutado um veterano...
Na enésima vezem que ele me chamou de covarde @#%!!, o sangue me subiu à cabeça, eu levantei da cama calmamente, nem tão devagar que parecesse provocação, nem tão depressa que parecesse fuga, para usar a expressão atribuída ao Washington Luiz ao deixar o Catete rumo ao exílio - metáforas heróicas são o meu forte! Eram duas fileiras de beliches, e eu encarei meu algoz no meio do corredor estreito, com os braços abertos, as mãos apoiadas nos beliches de um lado e do outro. Não era uma atitude de desafio que eu queria passar, era mais uma constatação: " 'cê vai bater, então bate". Ele tinha, no mínimo uns 10cm mais do que eu e era bem mais largo. Além disso, esta a fim de brigar e eu, nem um pouco... Dentro da minha cabeça, meus dentes saltavam para todos os lados e eu saía carregado para a enfermaria. Minha estréia no serviço prometia, e eu ficaria marcado como molenga e provocador.
L. me encarou fixamente, como esperando que eu desse sinal de agressão para se desculpar caso o incidente fosse levado ao oficial de serviço - que iria ficar contentíssimo em ser acordado no meio da noite. Me encarou fixamente, e... nada, simplesmente nada. Ficou resmungando repetidamente que não se escorbuta material, que calouro folgado, pegou as coisas dele - o "material" escorbutado - e foi escolher outro beliche.
No ano que se seguiu, até o juramento de Guarda-Marinha dos nossos veteranos, essa foi a última vez de que eu me lembre ter cruzado com L. no meu caminho. Se ele só tivesse existido na minha imaginação, não teria sido diferente. Mas ainda hoje, de pensar no momento em que abri os braços no alojamento e mandei ele bater, ufffa! até hoje sinto o gosto de adrenalina na boca.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A PRIMEIRA NOITE DE UM NAVAL

Os primeiros dias de trote no CIORM não tinham nada de especial. Nada daquelas tolices de medir a ponte com palitinhos ou engraxar as botas de um veterano. Coisas ainda mais bobas, como mandar o calouro se camuflar com um galho de mato ou rastejar no barro como bom naval. Eu passei quase o tempo todo desapercebido, e até fiquei um pouco ressentido, porque ninguém vinha me dar trote?
Mas veio um: o L. era um veterano naval que escolhia os navais para dar trote. Pra mim, ele queria algo realmente inovador: "Calouro pega essa camuflagem e te vira!" - isso, brandindo um galho meio esquálido. Eu, que estava conversando com um veterano, meu colega de ginásio e colegial, também naval, até me animei para ajudar o L. a cumprir seu papel de rei dos chatos.
Mas aí meu colega veterano interrompeu: "Deixa o meu amigo quieto e vai brincar noutro lugar. Por que V. não vai se meter com um intendente para provar que naval é mesmo macho!" Eu ainda quis interceder pelo L., mas ele já tinha desistido.
Aí veio o primeiro serviço na Ilha. Eram seis turmas, três do primeiro e três do segundo ano, e a cada seis dias ficava um grupo de serviço, mesclando os dois anos e as três armas. Todo mundo reclamava amargamente de ficar de serviço uma noite por semana na Ilha, sem praticamente nada para fazer. Mas, no fundo, todo mundo, ou quase todo mundo, gostava de vários aspectos do serviço, a quebra da rotina, a conversa jogada fora - na verdade no mar - até altas horas, com o ruído das marolas batendo no costado do cais e, o melhor de tudo, a volta para casa no dia seguinte tinha outro valor.
E havia os safos. Evidentemente, o L. era um deles. Todo mundo, depois de algum tempo, conhecia o caminho das pedras para atravessar o pedaço de baía do cais do Ministério da Marinha até a Ilha das Enxadas. Era uma opção conhecida e tolerada, para os atrasados, tomar um yole no cais e tentar chegar a tempo. Alguns preferiam o cais do CIAW, de onde podiam tentar passar desapercebidos e não perder pontos por indisciplina.
Mas L. estava entre os mais safos, os que contratavam um yole para buscá-los na Ilha à noite. Depois fiquei sabendo que não havia dia de serviço em que o L. deixasse de baixar à terra e regressar de yole, na chamada calada da noite.
Na minha primeira noite de serviço, minha única preocupação era a de não ser escorbutado - lambuzado de pasta de dente durante o sono, o trote mais chato que se pode imaginar. E o candidato a escorbutador mor, quem era? O próprio L., rei dos chatos, que estava de serviço de polícia, em ótima posição para humilhar os calouros. Quando eu soube que ele tinha baixado à terra, em vez de simplesmente ficar aliviado, eu, calouro de primeira viagem, escorbutei um veterano.
(continua)

domingo, 14 de agosto de 2011

Mais recordações

Pedro Ernesto enviou material precioso - tem mais na aba Galeria, confira.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011